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segunda-feira, maio 16, 2005

A solidão não é apenas estar fisicamente só; mas sim estar ausente de si mesmo.

Ao ler este blog numa noite fria de Maio o meu pensamento fica retido num post do Egnima.
A eventualidade de todos nós aguardarmos a morte na solidão.
Numa sociedade contemporânea em que a palavra "Novo" vende por si só, o menos novo ou velho é sinonimo de inconveniente, dispensável ou até horrível ( e não me refiro apenas a bens materiais...)
Basta vermos a título de exemplo nos últimos anos a proliferação do negócio sobre lares e casas adaptadas a pressão (muitas dela sem as mínimas condições) ter disparado em flecha repletas de "velhos" abandonados como se despojos se tratassem, de olhar gaseados e sem a mínima esperança de vida.
Mas a solidão não se manifesta apenas por factores de ordem cronológica do ser humano, outros factores contribuem para este fenómeno entre eles o isolamento social, a falta de objectivos e significado de vida, a deficiência nos relacionamentos; entre outros...( a lista é extensa)
Certamente os números em Portugal não serão ainda muito alarmantes face aos países ditos de “Primeiro Mundo”: 40% dos suecos morram sozinhos, bem como 36 % por cento dos dinamarqueses,35% dos ingleses, 30% dos franceses e alemães, 26% dos norte americanos.
Penso ser urgente uma abordagem e reflexão séria a nível global sobre o tema através dos mais diversos quadrantes da sociedade.
Sob pena de nos tornarmos uma sociedade ocidental individualista, geradora de solitários e de mais e mais solidão.

[The Last Samurai]



Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
Quem não muda de marca,
Não arrisca vestir uma cor nova
E não fala com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem faz da televisão o seu Deus.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere o escuro invés do claro
E os pingos nos "is" a um redemoinho de emoções,
Exactamente aquele que resgata o brilho nos olhos,
O sorriso nos lábios e coração aos tropeços.

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto,
Para ir atrás de um sonho.

Morre lentamente
Quem não se permite,
Pelo menos uma vez na vida,
Ouvir conselhos sensatos.

Morre lentamente
Quem não viaja, não lê, quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente
Quem passa os dias queixando-se da sua má sorte,
Ou da chuva incessante.

Morre lentamente
Quem destrói seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente
Quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
Nunca pergunta sobre um assunto que desconhece
E nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em suaves porções,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
Que o simples ar que respiramos.
Somente com infinita paciência
Conseguiremos a verdadeira felicidade.

PABLO NERUDA