Opium
É antes do ópio que a minh' alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
A vida a bordo é uma coisa triste
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.
Por isso eu tomo ópio. É um remédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.
Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
Eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.
Fernando Pessoa in Opiario
(Enigma)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home