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quinta-feira, julho 07, 2005

Opium



É antes do ópio que a minh' alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

A vida a bordo é uma coisa triste
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
Eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

Fernando Pessoa in Opiario

(Enigma)