href="http://notrealpolitik.blogspot.com/2005/02/politica-portuguesa.html"

quarta-feira, agosto 31, 2005

Reflexões (IX)

Há alturas na vida de uma pessoa, em que as duvidas tomam conta de nós. No que toca quer a vida profissional, como a pessoal e a social. Mesmo na maneira de ver o mundo, e no contacto que temos diariamente com as pessoas que nos rodeiam, surgem duvidas por todo o lado. Temos medo, raiva, frustações, desespero e desagrado, até mesmo repusa por tudo e mais alguma coisa. Por mais que procuremos levar uma vida "calma", sem pensarmos no que passa, cedo tomamos conta de que isso, não é maneira de viver, de que estamos a perder "tempo", de que os dias passam e nós em nada evoluimos, de que nada fazemos, a não ser vivermos como maquinas, habituados á rotina e condenados á ruina. Nada aprendemos, nada vivemos, as duvidas são cada vez mais, e somos incapazes de tomar a iniciativa de algo. Há pessoas que ainda podem diluir as suas duvidas na religião, na biblia .... felizardos, esses ainda podem acreditar verdadeiramente em algo. Se procurar respostas no oposto da religião, a ciência, nada encontro, pois as minhas duvidas ultrapassão o dominio da ciência. Quero respostas, ou apenas uma estrela que me oriente, uma voz que me indique o caminha.

É incrivel como apartir de uma pequena duvida, mais vão surgindo, e mais, e mais, até chegarmos ao ponto de duvidarmos das pessoas, e até mesmo de nós proprios. Mas por obra do acaso, a "biblia" que tanto procurava, veio me parar as mãos, como que por obra do acaso, escondida á tanto tempo atras de outros livros. E foi lá que encontrei as respostas, talvez não todas, mas pelo menos uma palavra "amiga", que me reconforta e anima, e talvez até me venha a guiar. O livro Ir a india sem abandonar Portugal de Agostinho da Silva, uma colectanea de reflexões e outros textos. Uma grande leitura, em todos os aspectos.

"Ao mesmo tempo, e como condição indispensavel, te levei a reflectir sobre ti proprio, te conduzi à ideia de que possivelmente os defeitos que vias nos outros não eram mais do que projecção exterior dos teus defeitos; e então começaste o constante, calmo trabalho de aperfeiçoamento; trocaste a agressão pelo conselho, a ironia que fere pela compreensão das causas mais profundas, a irritação pela piedade, os impetos de ataque pela infinita paciência; lamentaste a incultura dos outros, mas neles te incluíste; a existência do inferior não desculpou a teus olhos a existência do medíocre; resististe a todos os impulsos a que a inteligencia não vinha dar estrutura e sentido, íntimo acordo com o teu restante pensamento; cada vez houve em ti maior felicidade de ver o mundo como o viam os homens mais opostos, sem que se velasse a tua propria concepção; consideraste o adversário como o teu melhor auxiliar e até te deu ocasião de louvar o Criador; apuraste a vontade, puseste-a serviçal e fiel ante o que a razãote ditava; foi-se o teu espirito exercitando em conversar através de tudo, frente a todos os obstáculos, depois de todas as vitorias e depois de todas as derrotas, a alegria calma e tranquila, a confiante e poderosa serenidade que vem de nos sentirmos unos e lógicos e de termos como já presente, vivendo nele, o mundo que desejamos construir. Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras; a coragem de seres só; deixou de te afectar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; (...) traçaste a tua rota e hás-de seguila até ao fim, sem que desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam tu os consideras elementos da experiencia; para os homens futuros sem valor; se eles te abaterem, sé terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; (...) mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas perspectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona"

Agostinho da Silva in Ir a India sem abandonar Portugal

(enigma)