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quarta-feira, agosto 03, 2005

Vida na quinta

Nunca vivi numa quinta. Quero dizer nunca vivi numa verdadeira quinta, no máximo passei alguns anos numa casa perto de quintais com os respectivos galinheiros e plantações. As propriedades não seria muito grande mas todos os anos se fazia uma bela vindima - na qual eu adorava participar. É importante referir que o que era criado e colhido era apenas para a subsistência dos seus donos.
Mas esse tempo passou e com 6 anos movi-me para a cidade, não que a outra residência fosse longe da civilização, mas esta nova era no centro da cidade. É claro que a mudança não foi totalmente pacifica. Eu não me queria afastar dos amigos e conhecidos da altura - reacção perfeitamente normal, julgo eu! Mas os tempos mudam e nós mudamos com eles.
Muitos anos e acontecimentos, marcantes ou não, passaram mas a ideia de quinta tem-me voltado a assombrar. No prédio de 5 andares onde vivi (onde vivem os meus pais e eu às vezes) no centro da cidade, presenciamos a falta de civismo, a falta de bom senso e à pequenez do tipico burguês português.
Vejamos. Como era habitual nos prédios mais antigos (cerca de 25 anos) o andar mais baixo tem um terraço. Até aí perfeitamente normal, até deve ser engraçado poder estar a comer, beber ou apenas descansar sobre o um belo céu serrano de inverno. O problema está na ideia de construirem verdadeiras barracas, de zinco, plástico, ferro, etc.. nos quintais. Servem essas barracas de acrescento à cozinha, digamos que serão salas improvisadas. Vemos também a existência de vários animais domésticos, ou não - podem não ser tão domésticos quanto a definição assim o exige (exemplo: tartarugas) a passearem-se pelo resto do terraço que não foi ocupado pela barraca. Na barraca temos antenas de televisão, ao bom estilo do casal ventoso. Chegamos mesmo ao cumulo de construir portas para o exterior, bem como de usarmos cortinados para separar os vários quintais. Deslumbrante!

Se criticavamos os imigrantes que vinham das antigas colónias, ou os ciganos que encheram as grandes cidades de barracas, construido verdadeiros bairros, como é possivel que aceitemos que isso continue a acontecer sem prejuizo para quem as faz?
A liberdade de fazer o que quiser dentro das minhas quatro paredes é um direito indicutivel, que nada tem a ver com o que se aqui apresenta. Quando se constroem barracas na parte traseira de prédios, denegrindo assim a imagem e desvalorizando o imóvel alguém responsável terá de chamar os seus construtores à razão.
A população portuguesa é ainda muito agarrada à agricultura, à plantação do seu próprio "quintal" para consumo próprio. É normal vermos em cidades grandes verdadeiros quintais, com animais incluidos, tudo, para consumo próprio, ou venda ao vizinho mais próximo (o do 3esq.). No fundo apresenta-se perante nós a transferência do provincionismo para a cidade. Uma transferência que em nada ajuda à evolução. A falta de civilização, de noção do ridiculo, de "modernismo", falta na consciência de muitos e muitos portugueses. Que imagem queremos passar?
Nenhuma entidade trata cuidadosamente este problema - resposabilidade das autarquias, que não se preocupam com tais problemas, fazendo-se passar por cegos para os problemas de ordenamento, poluiçao visual, sonora e saude pública que tais empreendimentos provocam, ou podem provocar. As cidades são meios bastante concentrados de pessoas e casas que em nada têm a ver com a espaço rural, esse sim, amplo, deixado para o cultivo e práticas agro-animais. A distinção entre espaço urbano e rural é conhecido e bem diferenciado. A coexistência de ambos no mesmo local é sem dúvida algo de muito mau gosto e impraticável nos tempos que correm.

Mas voltando ao examplo concreto. Já que tanto o prédio onde habito como todos os outros têm uma barraca, fico pacientemente à espera que me convidem para a próxima vindima, e claro quando matarem um coelhito não se esqueçam de fazer uma almoçarada para os vizinhos - à boa maneira das antigas comunidades agricolas...

(posidon)