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terça-feira, setembro 27, 2005

"Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação. Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que o livro realiza. (...) Se lemos um livro antigo, é como se lêssemos todo o tempo que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. Por isso convém manter o culto do livro. O livro pode estar cheio de coisas erradas, podemos não estar de acordo com as opiniões do autor, mas mesmo assim conserva alguma coisa de sagrado, algo de divino, não para ser objecto de respeito supersticioso, mas para que o abordemos com o desejo de encontrar felicidade, de encontrar sabedoria."

Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Livro'

Por mais que tentem promover os chamados "livros electronicos" nada do que inventem nos pode dar o prazer de olhar para a parteleira e ver aquele amontoado de livros, imaginar o que contêm, toda a sabedoria e cultura que neles podemos encontrar, o prazer de segurar um livro e ir passando as suas folhas, ao mesmo tempo que "mergulhamos" na história que nos conta. E por incrivel que pareça, quanto mais velho for o livro mais ele nos transmite, parece que vai amadurecendo com o tempo, e que a sua história é cada vez mais sedutora e ensinadora.

(enigma)