estados de espirito (IV)
Há na música dos Coldfinger uma estranha portugalidade, contextualizada culturalmente de forma difusa, com um número de referências recebidas do exterior e assimiladas por Miguel Cardona e Margarida Pinto. Sendo «Lefthand» um veículo de um fenómeno musical sem registo similar no nosso país, poderia aparentemente supor-se que as antenas destes dois músicos estavam ligadas a um processo de globalização sonora. Nada de mais errado, como se pode testemunhar pelas palavras de Cardona: «Culturalmente, oponho-me totalmente a essa ideia, que considero mercantilista. A globalização passa por uma certa alienação do que é realmente importante». Contrariando essa tendência, os Coldfinger criam canções que, possuindo uma cultura musical baseada no hip hop, drum n'bass, jazz e registos construídos na colagem, são suportadas por poemas que reflectem o sentir português. Aborda-se a densidade das entranhas e dá-se-lhes texturas, formas e cores que nos tocam os sentidos como se fossem fotografias. A preto e branco, com muito grão, registam-se paisagens com grande profundidade de campo que lembram este cantinho à beira-mar plantado. Paisagens líricas com interlúdios separadores, num disco que conta uma história em fachas demarcadas esteticamente entre si. «É uma figura geométrica que se desenha num plano antecipado do qual fazem parte rupturas mais ou menos abruptas».
in Jornal de Noticias
[posidon]
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