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quarta-feira, abril 27, 2005

Genialidade (II)

A Alma e o Génio

"O que faz de um homem um homem de génio - ou melhor o que eles fazem - não são as ideias novas mas essa ideia, que nunca os larga, que o que já foi dito não o foi nunca suficientemente. (...) O que tortura a minha alma é a sua solidão. Quanto mais ela se dispersa pelos amigos e os prazeres comezinhos, mais esta me foge e se esconde na sua fortaleza. A novidade encontra-se no espírito que cria e não na nautreza reproduzida. Tu que sabes que o novo existe sempre, mostra-o aos outros - no que eles nunca souberam ver. Faz-lhes compreender que nunca tinham ouvido falar do rouxinol, do espectáculo do mar imenso ou de tudo aquilo que os seus grosseiros órgãos só se encontram em condições de desfrutar depois de se ter tido o trabalho de sentir por eles.

E não faças da língua um empecilho, porque se cuidares da tua alma ela arranjará forma de se dar a entender. Criará uma nova linguagem que valerá os hemistíquios deste ou a prosa daquele. O quê?, diz-me que se considera uma pessoa original e fica insensível à leitura de Byron ou de Dante? Essa febre que considera a força do engenho talvez não passe, afinal, da necessidade de imitar ?!... Não!, é que eles não disseram a centésima parte do que havia para dizer; é que numa só das coisas que eles abordam existe mais matéria-prima para os novos génios do que... e que a natureza depositou nas grandes imaginações do futuro mais coisas novas a dizer sobre a sua criação do que as coisas que criou."

Eugène Delacroix, in 'Diário'

(enigma)